“Eu suplico pelos arrogantes.”
O Papa assinou um documento importante chamado “Fiducia Supplicans”, publicado aos 18 de dezembro de 2023, documento este preparado pelo Dicastério pela Doutrina da Fé, com o subtítulo Do Significado Pastoral das Bênçãos.
Primeiro vejo que foi um documento preparado com cuidado, estudado, meditado e finalmente oficializado por um órgão sério da Igreja.
Depois vejo que ele consta de 45 laudas, algumas que requerem meditação e consideração.
Vejo que foi, portanto, dirigido aos Bispos em primeiro lugar.
Mas eu, como apenas um fiel, tive conhecimento do documento no dia seguinte. Até baixar e ler com cuidado as 45 laudas, demorei um par de dias.
Do que trata o documento? Para mim, de uma coisa óbvia: se um par de fiéis se dirigir a um bispo ou sacerdote e lhe pedir a bênção, ele a deveria dar. Bênção, aliás, NÃO LITÚRGICA!
Ora, é óbvio para mim que ela não vai contra nenhum cânone da Igreja, porque esta bênção não significa a aprovação do estado moral em que aquelas pessoas se encontram.
Os que estão contra precisam reler o Evangelho para saber como Jesus convivia com os pecadores. Fazia refeições com cobradores de impostos, com prostitutas. Não perguntava antes se eram pecadores porque era público e notório, como diria um advogado!
Existiria algo maior do que a presença do próprio Jesus ali? Muito mais que uma bênção! Mas isto irritava a alguns, por acaso aos fariseus, homens zelosos da religião, sim, mas do seu cumprimento externo.
Como é que alguns fiéis e, pior, Bispos, a quem compete a orientação aos fiéis, menos de 48 horas depois da publicação do documento, manifestarem-se descontrolada e publicamente em redes sociais CONTRA o documento? Tiveram tempo de ler as 45 laudas, meditarem sobre elas e depois tirarem suas conclusões? Até que discordassem, qual o caminho da responsabilidade episcopal nestes casos? Que se dirigissem ao Papa pedindo maiores esclarecimentos e até mostrando sua discordância!
Mas não, como crianças arrogantes, prestam um desserviço à Igreja, chegando ao absurdo de proibirem em suas dioceses que seus sacerdotes abençôem casais, por serem gays ou em condição irregular perante a Igreja. O documento diz claramente que não se está abençoando (oficializando, de algum modo) aquela união!
Vejo uma hipocrisia sem tamanho nisto. Vou provar.
Situação 1. O Sr. Bispo está ali, perto da igreja, e se aproxima uma pessoa e lhe pede a bênção. Vai dar a bênção ou perguntar se está em pecado? (caso contrário, imaginem, estaria legalizando o pecado).
Situação 2. O mesmo Bispo está ali e se aproximam duas pessoas e lhe pedem a bênção. Vai dar a bênção ou perguntar se estão morando juntas, se estão casadas pela Igreja etc.? Creio que não. Vai abençoar e pronto.
Mas aí alguém poderia objetar: mas não eram pessoas conhecidas publicamente como estando em situação irregular.
Vamos à situação 3. O Sr Bispo está celebrando uma missa. Entre os fiéis está um casal na tal situação irregular. Ou uma mulher de vida fácil). A comunidade sabe. O que fará o Sr. Bispo no início da missa? Perguntar se tem ali alguém em situação irregular? E se se apresentarem, vai pedir que se retirem?
Porque, ele sabe que no final da missa dará uma bênção LITÚRGICA a todos, incluindo o casal “irregular” ou outros.
Estou usando o termo Sr. Bispo apenas respeitosamente, porque um bispo que se julga acima do Papa, faz declarações públicas antes de consultar o Vaticano, dá uma de luterozinho, que também se achava acima do Papa em nome de “consertar” a Igreja não merece muita consideração, não.
Seja coerente, abra logo sua sucursal, feito um pastor Evangélico, e crie mais um cisma da Igreja. É tudo do que a Igreja está precisando. São homens tão dedicados à religião como os fariseus, que preferem o legalismo à misericórdia, que é a intenção do Papa.
E me atrevo a dizer que são piores do que os fariseus, porque está claramente escrito no documento, que ele não está alterando absolutamente nada em relação à doutrina. Portanto ou não o leram, ou não o entenderam, ou simplesmente estão contra a vontade do Papa em oferecer ao mundo uma visão da infinita misericórdia de Deus, obrigação missionária da Igreja.
Curiosamente, quem viu as declarações destes bispos, inclusive brasileiros, até no nosso Nordeste, fica imaginando que as portas das igrejas estão cheias de duplas de pessoas ansiosas por receberem uma bênção!
Se eu fosse um sacerdote destas dioceses eu solenemente desobedeceria esta proibição do meu bispo e seguiria a do meu Bispo de Roma, o Papa.
Como esclarecimento final, o que me levou a escrever estas reflexões foi a de um simples fiel que sabe ler, sabe refletir e respeitar o Papa. Não tem nada com meu sangue jesuíta de ser um soldado do Papa, embora eu o seja.
Que Deus proteja estes bispos, os ilumine e os faça voltar atrás, difundindo a verdadeira face misericordiosa de Deus.
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