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Céu! Céu?

murdochwilliam28


Já há algum tempo que eu gostaria de escrever sobre o Céu. Sobre algumas visões intelectuais que tenho tido sobre o assunto, até talvez indo mais longe do que nos ensina a Santa Madre Igreja. O gatilho que me levou a começar a por no papel, o que já estava em pensamentos não conexos, foi a cerimônia de batizado aqui na Paróquia da Urca, nesta festa da Epifania. Por causa do ambiente da igreja após a recepção do Espírito Santo por aquela dezena de criancinhas. Era tudo uma alegria só. Unida ao fato de que todas aquelas criancinhas eram anjinhos de pureza, recém consagradas a Deus, com a alma limpinha, tábula rasa, prontas para suas vidas humanas. Se morressem iriam diretinho para o Céu...

E aqui começam minhas reflexões sobre o Céu. Que, conforme os ensinamentos da Igreja, será, no fim, composto por nossos corpos e almas, gloriosos, e pelo que entendi, identificáveis entre os bilhões lá presentes. A contemplação de Deus infinito traria uma alegria inimaginável, aquela que nosso coração jamais sentiu.

Mas já que cada um ressuscitou com seu corpo glorioso, haveria alguma outra razão para isso? Para encontrarmos nossos pais? Nossos antepassados? São Tomás de Aquino diz que uma das alegrias dos santos é ficar contemplando o inferno e se alegrar por ver a Justiça de   Deus sendo cumprida. Logo deve dar para se ver alguma coisa e, por extensão, ver os santos e louvar também a Justiça e a Misericórdia divinas.



Vai caber aos teólogos definir o que o Céu é. É algum lugar? Onde os corpos ressuscitados estariam? Bilhões de seres beatificados se misturando com bilhões de seres angélicos, ao mesmo tempo tendo acesso a Jesus – que também tem um corpo beatificado – e a Deus, que não tem corpo de espécie alguma, é um puro espírito...

Acredito em tudo o que a Mãe Igreja me ensina sobre estas coisas, meu eu preferiria que a gente parasse na parte da alma. Uma vez morto, nossa alma puramente espiritual se juntaria aos corpos celestes, espirituais, e com a suprassuma alma de Cristo. Esta, através de aparições e milagres demonstraria aos apóstolos e outros humanos, estar viva. Mas entendo que aí faz falta o corpo glorioso de Cristo... Mistérios...



Mas minha reflexão vai além.

Para isso terei de voltar na História, e focar numa das grandes seitas dos judeus: Os saduceus. Eles eram o partido religioso, econômico e político dominantes na época de Jesus. A ele pertenciam a maioria dos sacerdotes. Eram favoráveis à presença romana, eram materialistas e não acreditavam na ressurreição, nem nos anjos. Isto os diferia dos fariseus, do essênios e dos zelotes. Estavam ativos no século segundo antes de Cristo até a queda do templo de Jerusalém no ano 70 na nossa era.

Aí começa esta reflexão, que poderia ter por base um saduceu sincero, que respeitasse oTorá e vivesse uma vida honesta. Alguém discorda de que isso seria possível? Sem dúvida o que estou implicando aqui é, se seria possível uma pessoa acreditar em Deus de todo o coração, respeitá-lo, ter uma vida santa, mesmo sabendo que uma recompensa de felicidade eterna não existia? Difícil ou não, eu creio que pessoas assim poderiam existir.



Mas, então, não teriam algum interesse humano em se privar das coisas em nome de um Deus Supremo? Para um judeu fiel, a primeira regra era amar a Deus sobre todas as coisas. O modo de amar era seguindo as leis. E por mais que lhes custasse, vários deles as seguiam, porque amavam a Deus. Mas sem ganhar nada por isso?

Aí vem o fato curioso. Estes povos julgavam que a vida com bens materiais, longevidade, prole numerosa, reconhecimento e saúde eram os pagamentos que Deus já fazia. Confira com Jó, que sempre fôra correto, porém aos olhos de todos – e dele mesmo – estava sendo tratado como um pecador. Sem a crença numa vida eterna posterior, tudo isto parecia não fazer o menor sentido.

Para meu argumento, quero pinçar aqui alguns saduceus que provavelmente existiram, e que tiveram uma vida modesta, ou alguma doença, ou não tiveram filhos. Seria possível que estes rezassem a Deus, louvando-o, e aceitassem o que o Ser Supremo lhes tinha destinado? Creio que sim, porque se amássem a Deus sobre todas as coisas, de verdade, aceitariam os designios de Deus para aquela sua vida, que seria sua única, sem o conforto de uma vida eterna esperada.

Volto ao início, reafirmando que creio em tudo que a Mãe Igreja me ensina, por causa de Cristo. Mas não posso deixar de achar que aqueles saduceus, que nada esperavam depois da morte, tiveram uma confiança em Deus muito mais desinteressada da que os cristãos têm.



Por exemplo um ateu, que sabe que acreditamos numa vida eterna feliz, não pode achar que somos muito interesseiros? Que só fazemos o bem porque queremos gananciosamente obter um bem maior? Que os sacrifícios de uma Santa Tereza de Calcutá são, no fundo, uma moeda de troca com o espiritual?

Assim é que eu gostaria de ver, a minha vida, em preparo para a morte. Sei que, na morte, o prêmio eterno será a própria visão de Deus, sei que ressuscitarei (viva a Misericórdia Divina!) e terei o Cristo amado a meu lado.

Mas também eu gostaria de deixar claro diante de Deus que, se Ele quiser, não precisará me dar a vida eterna para que eu o tenha amado. Mesmo que após a minha morte só exista momentâneamente um paredão negro, e logo, meu fim permanente. Nem por isso vou amá-lo menos. Nem por isso devo amá-lo menos, porque me amor sendo sincero, não será interesseiro. Ou seja, tenho de amá-lo pelo que Ele é e não porque me prometeu um prêmio. E o bem que farei é para ser feito nesta vida. Ela é que me foi dada por Ele para isso. Mais nada. Depois da minha morte é com Ele! Só não quero ser católico interesseiro.



 

 



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