Preparar-se para qual futuro?
- murdochwilliam28
- Apr 2, 2024
- 4 min read
Updated: May 19, 2024

Tive a bênção de aprender eletrônica quando tinha 13 anos. Aprender de verdade. Foi para o sangue. Com todas as conseqüências.
Conseguia desde lá ver a lógica das coisas, causa/efeito. Superstições e correlatos sumiram… Aí seguem-se consertos de equipamentos de parentes e vizinhos. Depois entrando no mundo da lógica da TV, com um baita empurrão do marido da prima Regina, o Rubens, que trabalhava no "Rei da Voz" em Copacabana, onde acontecia o curso. E lá ia eu, garoto, aprender os circuitos de TV misturado com uma turma de homens…
Daí eu dava aulas noturnas e gratuitas no Santo Inácio para pessoas do Dona Marta, para ajudá-los a ter uma boa profissão. Fiz a mesma coisa depois, em São Paulo, nas Faculdades Anchieta da via Anhangüera, para pessoas da comunidade vizinha que era Cajamar. A boa surpresa foi que no final do curso de eletrônica, um aluno me trouxe um par de sapatos de presente, dizendo: “Professor, meu último par de sapatos que fiz e lhe dou. Eu era sapateiro. Agora abri uma lojinha de eletrônica.”
Por que estou contando tudo isto?
Porque pude viver uma mudança drástica nas profissões.
Quando aprendi eletrônica, o atraente e interessante era a descoberta do defeito. A partir de uma lógica a gente necessariamente chegava a uma causa. Que era sempre uma peça avulsa, seja uma válvula, um transístor, um resistor… Independente da marca e modelo. Claro que conhecer a lógica de um amplificador era fácil. Um rádio já exigia algum estudo, saber como medir a tal freqüência intermediária e eram necessários alguns medidores diferentes. Para a TV, já complicava mais, mas sempre se chegava à causa, que era um componente individual que você tinha o prazer de descobrir e trocar. Apenas havia o risco real de levar um choque de alta-voltagem daqueles tubos de imagem!
Aï entrei na IBM e veio a mudança! Repare que, quando entrei na empresa, fiz o curso dos computadores 360, aprendi a seguir a lógica do computador de cabo a rabo, e quando dava defeito, tinha o prazer de pesquisar . O curso era difícil mas com um resultado do enorme prazer de vencer a máquina. E que máquina! Já agora se resumiria não mais a uma peça individual, mas num pequeno cartão com poucas peças individuais. Mas eu achava o criminoso lá!!!
Fui para a Inglaterra em 1972 aprender, para depois treinar os colegas, na nova família de sistemas, os 370.
Nesta data acabou, quase que totalmente, o prazer de descobrir o defeito, vencer a máquina e se aprimorar nisto. O tempo gasto não compensava para a empresa. Aí surgiu, naquela pequena escala, a inteligência artificial. Ou seja, o próprio computador fazia seu diagnóstico e indicava onde estava a falta. E você ia lá e trocava uma peça, também um cartão eletrônico, mas com centenas de circuitos nele. Qual a causa? Não interessa. Ou seja, bastava colocar um macaco treinado e ele faria a troca das peças… Grande estímulo profissional...
No mercado eu vi a mesma coisa acontecendo. Na eletrônica, aos poucos, os circuitos se adensavam. Um rádio tinha uma única placa onde, nem sempre, se podia acessar a componentes individuais, porque não existiam. Tudo era integrado, em bloco.
Nas TVs, a mesma coisa. Hoje uma TV destas de LED tem apenas 3 placas internas. Deu defeito, troca uma delas. Pouco conhecimento se precisa para saber qual delas.
Nos carros, idem. Antes qualquer mecânico consertava qualquer carro. Os sistemas eram simples: ignição, com três peças e carburador e bomba de combustível. Dava emprego a muita gente. E hoje? O carro detecta seu defeito e informa por código. Se o defeito for complicado, poucos mecânicos saberão consertar. E precisarão de medidores caros, como um osciloscópio por exemplo.
Então o que se vê. Cada vez mais gente entendendo menos das coisas. Daí qualquer um pode substituir o outro. Isto é bom? Não sei, tira o orgulho do bom profissional.
O que sobrou? Instalação elétrica residencial. Tem apenas fios, interruptores, soquetes, tomadas, fusíveis e lâmpadas! Grande coisa. Com pouca base qualquer um instala e conserta…
Viva este mundo novo! Ainda bem que aquele sapateiro que treinei lá atrás, pode ter obtido sucesso e boa remuneração pelo seu trabalho. Ser fosse hoje eu diria, não pare de fazer sapatos não. Faça-os artesanalmente, tenha um pouco de você em cada par. Orgulhe-se do que faz!
Depois reclamam que muita gente passa milhares de horas presa a smartphones! pois foi o que sobrou para as pessoas se interessarem.
Entretenimento. Claro que aparecerão dezenas de influencers sobre tudo. Serão seguidos pelos que sabem quase nada. Aparecerão centenas de pessoas opinando, muitas vezes sem qualquer conhecimento, mas se realizando nisto. Mas é o que sobra. Receitas de bolo, culinária, enfeites, dicas de saúde e até de pequenos reparos que cada um pode fazer, mantendo os poucos “especialistas” desempregados.
É o que sobra. Cada vez mais vai ser nesta direção. É a inteligência artificial tomando todos os espaços possíveis. Não tem volta. Estudar? O quê? Para quê? Sentido da vida? Que a religião ocupe este espaço, e nesta busca de sentido quem sabe achem O Sentido?
Comentários