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Trazendo a Consolação de Deus a um Mundo Cansado

  • murdochwilliam28
  • Dec 10, 2024
  • 14 min read



RESUMO DE UMA PALESTRA DADA PELO PE. RON ROLHEISER OMI



Menos de um ano depois, eu estava em uma reitoria trabalhando durante o verão e eu estava lá com um sacerdote idoso parcialmente cego, um santo maravilhoso de quase 80 anos, e estava sentado no diretório sozinho, e seu nome era Leo. E eu disse, Leo, se você tivesse sua vida sacerdotal para refazer, faria algo diferente? Eu estava esperando que ele dissesse: “Oh, não, você sabe, eu fui fiel e assim por diante.” Mas ele me surpreendeu e disse: “Com certeza!”. Ele disse: “Se eu tivesse minha vida sacerdotal para refazer, eu a faria muito diferente. Sempre me disseram: ‘Olha, a verdade te libertará’. E eu vivi isso. Eu fui um padre fiel, mas fui muito duro com as pessoas’.”

 

"Ele disse: 'Se eu tivesse minha vida sacerdotal para refazer, eu seria muito mais gentil da próxima vez e pregaria mais sobre a consolação de Deus. As pessoas já carregam grandes fardos. Por que estamos colocando mais fardos sobre elas? Não há contradição entre meu professor de Teologia Moral e eu, mas os professores de Teologia Moral também dizem: "A verdade vos libertará". Exceto que a verdade é precisamente que precisamos pregar a consolação de Deus. Se pregarmos verdadeiramente a Escritura, não há contradição entre a verdade e a misericórdia de Deus, porque a verdade mais profunda é a de um Deus poderoso e misericordioso.'

 

Vamos a uma imagem.  A imagem é da Escritura, de Jesus orando sobre Jerusalém. Dizem que uma noite Jesus estava olhando para a cidade de Jerusalém, estava olhando para sua cidade natal, por assim dizer, e o que Ele falou? Ele não disse: 'Bem, Deus, que imundície e que mundo secular terrível'. Dizem que Ele chorou sobre Jerusalém. Ele disse: 'Jerusalém, Jerusalém, se ao menos tivésses escutado os profetas, se ao menos tivésses escutado as mensagens, se tivésses tentado reunir-te como uma mãe reúne seus filhos à mesa, mas tu não quisestes.' Aqueles de vocês que são pais e lutam com filhos e netos entendem a imagem.

 

Infelizmente, muitas vezes essa é a imagem de nossa Igreja hoje. Com muita frequência, estamos olhando para o mundo secular e dizendo: 'Já que você não está ouvindo a Deus, vá pelo seu próprio caminho e vá para o inferno se quiser. Nós temos a verdade e você que se vire! Temos de fazer o contrário disto!  Precisamos trazer ao mundo a consolação de Deus, e com a consolação de Deus virá o desafio de Deus. Se pregarmos primeiro o desafio de Deus, não teremos a consolação de Deus. Precisamos pregar a consolação de Deus, e a partir daí, você verá que virá o desafio de Deus. Precisamos fazer isso.

 

Mais uma outra imagem que nos ajudará nesta tarefa... Você sabe a palavra 'Evangelho'?

"Às vezes nos esquecemos que a palavra 'evangelho' significa 'boa notícia'. Não significa 'bom conselho', não significa 'boa moralidade', não significa 'bom desafio'. Contém isso também, mas a palavra 'evangelho' significa 'boa notícia'. Quando você pega toda a Escritura, mas particularmente, quando você pega Jesus, você verá que principalmente o que Jesus faz é revelar o coração e o amor de Deus por nós. Essa é a consolação que precisamos pregar ao mundo. E se pregarmos a consolação, o mundo começará a receber o desafio.

 

Deixe-me acrescentar uma pequena pitada de psicologia nisso. Os psicólogos dizem que um desafio só é eficaz se você puder realmente ouvi-lo de alguém que você sabe que te ama. Se você conhece alguém, você sabe que essa pessoa realmente quer seu bem e seu interesse no coração, e eles vêm o que a pessoa pedir, você tem grande chance de fazer. Mas se não for isso, se for baseado em alguém que você sabe que não te ama, que apenas têm coisas contra você, quando eles te desafiam, isso só piora as coisas.

 

Então, antes que a igreja e nós, como pais ou qualquer outra coisa, tenhamos qualquer tipo de credibilidade com o mundo, com nossos filhos, eles primeiro têm que saber que Deus os ama, e Deus ama. Vamos focar nisso. Vamos tratar de alguns princípios que são bem eficazes.

 

Primeiro, o primeiro princípio é que a consolação que estamos pregando é que a compreensão, a compaixão e o perdão de Deus, infinitamente superam os nossos. Vou ilustrar isso com uma história. Alguns anos atrás, voltei para minha pequena cidade natal em Saskatchewan e foi para uma ocasião muito triste, o funeral de um jovem que havia morrido em um acidente de carro. Somos uma pequena comunidade onde todos se conhecem,  principalmente uma comunidade católica. E esse jovem, que tinha uns 20 ou 21 anos, não tinha realmente vivido sua vida cristã, como às vezes os jovens não fazem. No ano ou dois antes de sua morte, ele não estava indo à igreja.

 

"Ele estava bebendo muito, vivendo com a namorada, indo a bares de solteiros, fazendo coisas que não são exatamente cristãs ou morais. Então, uma noite, bêbado, ele bate o carro e morre. A comunidade se reúne, nós conhecíamos esse jovem, ele era um jovem muito bom de coração. No velório, uma das minhas tias, uma mulher maravilhosamente terna, me disse: 'Sabe, padre, ele era um bom garoto, apesar de tudo. Ele tinha um bom coração, todos nós o conhecíamos. Se eu estivesse comandando as Portas do Céu, eu o deixaria entrar.'

 

Vamos destrinchar isto! Qual era o medo dela? Vimos esse garoto e entendemos aquela juventude, mas ela tinha a sensação de que Deus não via. Se apenas nós estivéssemos comandando as Portas do Céu... No fundo ela achava que somos muito mais compreensivos do que Deus. Deus tem todas essas coisas legalistas que Ele tem que seguir, e não tem escolha. Deus tem que colocar esse garoto no inferno, mesmo que ele tenha um bom coração, porque vivia em pecado mortal! Bem, podemos relaxar. A compaixão, a compreensão e a empatia de Deus são bilhões de vezes maiores que as nossas. Deus lê o coração, Deus pode distinguir entre fraqueza e malícia, Deus pode distinguir entre imaturidade e pecado. Quer dizer, até nós podemos, Deus faz isso cem mil vezes mais do que nós. A compreensão mais segura está nas mãos de Deus.

 

Sabe, sempre nos preocupamos: 'Bem, essa pessoa cometeu suicídio' será que vai para o inferno? Estava depressiva mas era ótima pessoa! Nós somos pessoas compassivas. Minha tia era uma pessoa muito compassiva. Note que ela era uma católica enérgica, que tinha esse senso catequético claro, e o que o rapaz fazia estava errado, mas ao mesmo tempo ela entendeu que esse era um bom garoto e nosso Céu precisa incluí-lo. Ele não quer esse garoto excluído do Céu porque ele era imaturo e teve a má sorte de não superar aquele período de imaturidade. Sabe, se ele tivesse vivido mais alguns anos, provavelmente seria um homem maravilhoso e respeitável, provavelmente seria um diácono hoje. Mas a infelicidade de ser morto quando era jovem, sabe? Vemos isso, mas Deus vê isso mil vezes mais.

 

Segundo ponto. Deus é um Deus de completa não-violência, não-coerção e não-ameaça. O Deus que Jesus prega é um Deus convidativo, não um Deus ameaçador. Faça-se esta pergunta: na Escritura, há mais de 300 vezes em que Deus aparece, eles chamam isso de teofanias. Deus aparece mais de 300 vezes e, em todos os casos, quais são as primeiras palavras que são ditas quando Deus aparece? 'Não tenha medo'."

 

"Veja, quando Deus irrompe em sua vida, as primeiras palavras sempre são 'não tenha medo'. Se algo literalmente o abala, você pode ter certeza de que não é de Deus. Deus não prega fogo infernal, Deus prega Graça. Observe, verifique, 300 vezes, uma vez para quase todos os dias do ano, Deus aparece dizendo 'não tenha medo'.

 

Então, Deus nunca é uma ameaça. Veja, Jesus vem e nos convida, Ele não nos ameaça com neurose ou com fogo infernal ou qualquer outra coisa. Deus vem e nos convida a viver de uma certa maneira.

 

Veja, Deus nos convida, não nos ameaça. Então, Deus nunca é uma coerção. Sabe, às vezes as pessoas me perguntam: 'Por que não pregamos mais o fogo do inferno?' Sabe, pelo menos não tem sido muito pregado, e a coisa por trás da pergunta é porque é realmente eficaz. Quando eu era criança, quando alguns de vocês eram crianças, a Igreja pregava muita ameaça e fogo do inferno, e sabe de uma coisa, era bem eficaz. Que se você não fosse à missa no domingo, isso era um pecado mortal e se você morresse assim, não iria para o céu. Essa é uma ameaça muito pesada, e aí a gente ia à missa. E me lembro das irmãs que nos ensinaram sobre sexo quando éramos adolescentes, você tinha medo se até espirrasse errado, porque iria para o inferno. E sabe de uma coisa, isso ajudou nosso comportamento.

 

Então, eles dizem: 'Se é tão eficaz, por que não pregamos?' Bem, a lavagem cerebral também é eficaz, mas é antitética ao evangelho. Sabe, o evangelho tem o propósito de nos libertar do medo, especialmente do medo de Deus. Embora digamos que o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, isso significa um temor reverencial, não o tipo de medo da intimidação, da ameaça, da neurose."

 

"Você não tem medo de alguém que você ama, você tem medo de desapontar alguém que você ama. Então, Deus é não-coerção. Michael Hines, um excelente teólogo do Boston College, tem essa imagem de Deus. Ele diz: 'Sabe, como você quer imaginar Deus? Você já viu uma mãe tentando ensinar um filho a andar? Elas colocam a criança de costas para a parede, a uma pequena distância, e tentam fazê-la dar um passinho, apoiando-a. E sempre que a criança dá um passo, a mãe se afasta um pouco. É assim que Deus age - um convite gentil e persuasivo para dar outro passo.'

 

Terceiro ponto, e importantíssimo! precisamos pregar que Deus respeita nossa natureza, a complexidade humana e nossas inclinações inatas. Não é um ponto a ser desprezado de modo algum. O que significa dizer que Deus respeita nossa natureza? Nós nunca entendemos isso completamente. Deixe-me dar um exemplo.

 

Há uma história hindu e vou contá-la. Um dia, um homem estava caminhando com Deus e conversando. Eles estavam andando na estrada e o homem disse a Deus: 'Explique-me o sentido da vida'. Deus disse: 'Eu gostaria, mas minha garganta está seca, então eu quero que você vá me buscar um copo de água. Depois que eu beber este copo de água, explicarei o sentido da vida para você.' O homem disse  claro que sim, foi até a casa mais próxima, bateu na porta e uma jovem muito bonita atendeu. Ele pediu a ela um copo de água e ela disse que sim, mas como era perto de meio-dia, ela perguntou por que ele não entrava para comer primeiro. Então ele entrou na casa, comeu e... 35 anos depois!

 

Casaram-se, tiveram cinco filhos, ele era um juiz respeitado na comunidade, e ela era um membro importante na comunidade. Eles tinham cinco filhos e estavam na cama uma noite quando um terrível furacão veio e a casa começou a tremer. Cheio de medo, o homem gritou: 'Deus, Deus, onde você está?' E Deus respondeu: 'Onde está o meu copo de água?'

 

Veja, o que você vê na história é uma distração de 35 anos. Sabe, ele realmente queria fazer aquilo, ele ia pegar a água, mas aí se distraiu, casou-se e por aí foi."

 


Isso que aconteceu não seria motivo de uma repreensão pesada. É um texto que explica a natureza humana, que ilustra a complexidade humana. Nós somos apenas criaturas patologicamente distraídas. Por quê? Porque fomos feitos assim. As grandes literaturas espirituais sempre nos desafiam a dizer: "Acorde, seja mais atento, tente estar consciente da presença de Deus." E nós nunca conseguimos isso completamente. Fazemos isso, mas invariavelmente nossa natureza nos puxa de volta. Estamos imersos na vida, em nossas famílias, criando filhos, pensando no emprego, nas contas, nos churrascos de sábado à noite e em tudo o mais.

 

Bem, se essa é a forma como fomos feitos, e Deus nos fez assim, você acha que Deus está zangado conosco por vivermos dessa maneira? Veja, Deus criou a natureza humana e a fez de maneira tão precisa que ela imerge profundamente na vida. Então, se Deus nos fez assim, você acha que Deus fica chateado porque não conseguimos manter nossa concentração consciente em Deus o tempo todo?

 

Quero ler um pequeno trecho que escrevi há algum tempo, mas cabe aqui perfeitamente:  talvez Deus seja maduro o suficiente para não exigir nossa atenção consciente o tempo todo. Talvez Deus queira que aproveitemos nosso tempo aqui, que desfrutemos da experiência do amor, da amizade, da família, dos amigos, de comer, beber e até, ocasionalmente, de ver nosso time favorito ganhar um campeonato.

 

Ok, talvez Deus seja como um avô abençoado e, talvez, de uma maneira inequívoca, quando desfrutamos de forma saudável o presente da vida, estejamos, de certa forma, rezando. E talvez existam formas menos conscientes de estarmos cientes de Deus. Veja, Deus nos colocou aqui para vivermos vidas humanas.

E invariavelmente sentimos culpa, como se algo estivesse errado conosco. "Sabe, Deus pediu um copo de água  há 35 anos, e eu nunca cheguei a dar." Não, fomos feitos assim. 

 

Nós não somos pessoas simples, e Deus nos fez assim. E sabe, nunca fomos capazes de entender Deus dessa forma. Francamente, sempre achamos que Deus é um pouco menos esperto do que nós. Achamos que somos complexos e que, de alguma forma, Deus fica chateado com isso, quando, na verdade, foi Deus quem nos fez assim. 

 

Somos incrivelmente complexos, patologicamente complexos. Não há ninguém nesta sala que não pudesse escrever dois livros sobre psicologia patológica só refletindo sobre a própria vida. Nós somos simplesmente complexos. 

 

Nossa natureza está invariavelmente nos empurrando para o material, para nossas famílias, para os jogos de futebol, para tudo. E isso não é algo ruim. Deus não está nos repreendendo. Veja, Deus não fez nossa natureza de um jeito e agora vai nos condenar eternamente porque, de alguma forma, não conseguimos sempre manter Deus como o centro de nossa atenção consciente. 

 

Imagine Deus assim: pessoas maduras, pais maduros, avós maduros. Quando eles estão felizes, estão felizes porque as crianças estão felizes. Quando estão no churrasco ou à mesa, eles não precisam ser o centro das atenções; eles estão simplesmente felizes porque as crianças estão felizes. 

 

Deus é maduro. Deus está feliz quando estamos felizes. Deus não está dizendo: "Mas você não pensou em mim. Claro, você estava no casamento da sua filha e tudo correu bem, mas você se esqueceu de orar. Não pensou em mim." Não, Deus está feliz quando estamos felizes. 

 

Agora, é claro que devemos tentar pensar em Deus. Mas, de forma inconsciente, na maneira como vivemos nossas vidas, há maneiras profundas de rezar. Existem outras formas de estar consciente de Deus. 

 

Quarto ponto. Deus não exige certas condições morais prévias para jantar conosco. A presença de Deus é perdão. Não consigo enfatizar isso o suficiente. Deus não exige, primeiro, que atendamos certas condições morais para, então, estar conosco. Deus janta conosco antes de atendermos a essas condições. 

 

A presença de Deus é perdão. Deixe-me ilustrar isso nas Escrituras. Veja com Jesus. Jesus choca e escandaliza as pessoas. Por quê? Porque janta com pecadores, com cobradores de impostos, com prostitutas, com os traficantes de sua época e assim por diante. E veja, ele janta com eles – isso é a Eucaristia. 

 

Ele não exige primeiro que eles se convertam e mudem suas vidas. Na verdade, ele janta com eles, e então muitos deles mudam suas vidas. 

Mas sabe, por séculos, temos ido na direção oposta: primeiro você limpa sua vida, depois pode comungar. Agora, se eu lhe fizesse esta pergunta; é uma pergunta capciosa; "É errado ir comungar com um pecado mortal na alma?" O Catecismo da Igreja Católica diz que é um sacrilégio, ou até mesmo um pecado mais grave, ir à comunhão com um pecado mortal na alma. Qual é o problema dessa pergunta? 

 

Bem, é uma pergunta hipotética, algo que nunca vai acontecer, a menos que alguém vá à comunhão por pura malícia. Mas o simples fato de alguém querer comungar é um sinal 100% infalível de que essa pessoa não está em estado de pecado mortal. Porque pecado mortal significa, precisamente, que cortamos nossa relação com Deus. Então, é uma questão hipotética que não existe. Se alguém vai à comunhão sinceramente, essa pessoa não está em estado de pecado mortal. 

 

Além disso, a Eucaristia é o grande sacramento da reconciliação. E isso não é uma nova doutrina católica, já estava no Concílio de Trento. Veja, a Eucaristia, a Comunidade Cristã, é o sacramento essencial da reconciliação. 

 

Então, você não vai à comunhão depois de limpar sua vida. A comunhão é o meio de limpar sua vida. O grande teólogo Ronald Knox, de gerações atrás, disse algo que eu amo. Eu até usei uma frase dele como título para meu livro sobre a Eucaristia. Ele disse: "Sabe, nós, cristãos, nunca fomos realmente fiéis a Jesus em um sentido profundo. Não viramos a outra face, não perdoamos nossos inimigos, não vivemos o Sermão da Montanha." 

 

Mas, disse ele, fizemos uma grande coisa. Tivemos um grande ato de fidelidade: a Eucaristia. A última coisa que Jesus nos disse antes de partir foi: "Mantenham a Eucaristia até que eu volte." E nós fizemos isso. Vamos fazê-lo hoje, e esse único ato é o que vai nos salvar. É o nosso grande ato de fidelidade. 

 

Mas perceba: a Eucaristia não exige que você primeiro limpe sua vida. Na verdade, essa é uma das tragédias de hoje. Muitas pessoas, incluindo alguns de seus próprios filhos, não participam da Eucaristia porque não se sentem dignas. Elas acham que primeiro precisam limpar suas vidas. 

 

Mas a Eucaristia é o meio de limpar sua vida. Você não limpa sua casa primeiro para, então, chamar os faxineiros. É para isso que os faxineiros existem. A Eucaristia é a grande limpeza, o grande sacramento da reconciliação.

 

 

Então, veja, Jesus vem e janta conosco, sem condições morais prévias. Note que Jesus nunca impôs condições. E Ele precisou, algumas vezes, passar por cima dos apóstolos. Veja, com Jesus, os apóstolos eram bons homens da igreja, mas estavam sempre tentando afastar as pessoas dele: prostitutas, pecadores, crianças, cobradores de impostos. E Jesus sempre dizia: "Deixem que venham, deixem que venham." 

 

Hoje, a igreja, com todo o crédito, muitas vezes age como os apóstolos. Estamos sempre tentando afastar as pessoas: "Estão em um casamento irregular, estão vivendo com o namorado ou a namorada." E Jesus diz: "Deixem que venham." Não há condições morais prévias para se jantar com Jesus. 

 

E mesmo se estivermos em pecado, veja, Jesus deu a Judas a comunhão na Última Ceia. Ele não disse: "Os outros 11 podem comungar, mas Judas, eu sei o que você está tramando, você não pode comungar." Não, Jesus deu a Judas a comunhão na Última Ceia. Jesus janta com pecadores. Não há condições morais prévias. 

 

Quinto ponto. Por fim, e isso é a maior consolação, vivemos sob um Deus e um Cristo que podem e irão descer ao inferno por nós. No nosso Credo, há essa linha enigmática: "Desceu à mansão dos mortos, ao terceiro dia ressuscitou dos mortos." O que significa que Deus desce ao inferno? 

 

Agora, temos a nossa compreensão catequética e icônica disso: que, após o pecado de Adão e Eva, os portões do Céu foram fechados, e então Adão, Eva, Abraão, Sara e Raquel tiveram que esperar em um lugar no submundo. Quando Jesus ressuscitou dos mortos, ele foi até lá, levou aquelas almas e as conduziu ao Céu. Essa é a nossa compreensão catequética e icônica. 

 

Mas há um entendimento espiritual, que remonta aos Padres da Igreja, como Gregório de Nissa, até hoje. Eles dizem que esta é a doutrina mais consoladora de toda religião — do Cristianismo e de qualquer outra religião: quando não conseguimos mais ajudar a nós mesmos, quando estamos em "infernos" de feridas, amargura, raiva, alienação, lugares tão profundos que nenhum ser humano pode penetrar, Jesus ainda pode chegar lá. 

Jesus pode penetrar em qualquer inferno que criemos e insuflar paz. Agora, se respondemos a essa paz, vamos para o céu. Na verdade, Gregório de Nissa, que foi um dos primeiros a formular essa ideia, era um universalista e um grande santo. Ele acreditava que o triunfo final de Cristo será quando Cristo tirar até o diabo do inferno. Ele dizia que, eventualmente, até o diabo se converterá e voltará ao céu. Segundo ele, esse será o triunfo final: o amor de Deus é tão forte que, no fim, até o diabo se converterá e o inferno ficará vazio. 

 

Gregório de Nissa acreditava que, no final, Deus fará isso. Essa é uma doutrina profundamente consoladora, que significa que nunca estamos perdidos. Nenhum de nós nesta sala, que já viveu neste planeta por muito tempo, deixou de perder entes queridos ou de presenciar pessoas perdidas em desesperança, suicídio, alienação, rompimentos amargos, raiva, feridas e situações das quais, deste lado da eternidade, não há retorno. 

 

Mas, quando estamos sem opções, ainda existe um grande movimento: vivemos sob um Deus incrivelmente compassivo. E essa é a verdade que devemos pregar ao mundo. A verdade vos libertará. Agora, não há contradição entre misericórdia e verdade. Precisamos pregar essa verdade, mas é a verdade da misericórdia de Deus. 

 

Veja, Jesus fazia isso. Ele jantava com pecadores, pregava a verdade e eles se convertiam. Há muito se fala sobre "nova evangelização", mas eu acredito que a nova evangelização não será tanto sobre técnicas. Será sobre tentar alcançar nossos próprios filhos, mostrando a infinita misericórdia de Deus — o Deus sob o qual eles vivem. 

 

Muitas pessoas não vão à igreja porque têm uma ideia errada de Deus. Há tantos ateus no mundo porque têm uma noção equivocada de Deus. Michael Buckley, o jesuíta americano que escreveu de forma mais eloquente sobre ateísmo que já li, disse: "Todo ateísmo é um parasita de uma religião ruim." Só existem ateus porque pregamos Deus de forma errada. 

 

Essa é a consolação que precisamos pregar. 

 

Deus nos abençoe!

 

 
 
 

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